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Sérgio Bruno Cabral Fernandes
Promotor de Justiça
O sujeito encosta no balcão e pede um pedaço de cuscuz. Logo lhe vem à lembrança o aroma de milho e a imagem de uma leve fumaça saindo da fatia amarela colocada no prato. Planeja incrementá-lo com manteiga e decide que a iguaria será escoltada por um cafezinho. Eis que chega o almejado quitute. Branco, frio e coberto de coco ralado. Reclama e argumenta que pediu cuscuz.
Em resposta, ouve que aquilo é, sim, cuscuz e ainda recebe do interlocutor, em vez de manteiga, uma lata de leite condensado para despejar em cima. Quem está mentindo? Nesse caso, ninguém. Ao colocar alimentos diversos sob o mesmo signo (cuscuz), a palavra igualou coisas distintas, desprezando as diferenças de cor, aroma e sabor entre o cuscuz feito no Nordeste e o no Rio.
O chamado “Homem de Piltdown” chegou a ser celebrado por décadas como um achado de extraordinário valor antropológico. Inaugurou gênero próprio e desfrutou de todas as honras que poderia merecer. Mas era uma mentira monstruosa, pois se tratava de um cérebro humano moderno enxertado por uma mandíbula de orangotango.
O que intriga nesse caso são duas coisas.
A primeira é que foram autoridades respeitabilíssimas que homologaram a farsa. Sir Arthur Keith foi o principal paleontólogo de sua época, guardião da Coleção Hunter da Escola Real de Cirurgiões e ex-presidente do Instituto de Antropologia. Sir Arthur Woodward era considerado a maior sumidade do mundo em fósseis de peixes, e foi o curador dos museus Britânico e de Geologia Britânico. Pierre Teilhard de Chardin era um jovem francês brilhante, padre, teólogo e paleontólogo; estava na trincheira quando Charles Dawson fez a suposta recuperação.