Evento, realizado na terça-feira, 28 de maio, teve bate-papo com o diretor do clipe da Tribo da Periferia e mesa-redonda com integrantes do sistema de justiça
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) promoveu na noite da terça-feira, 28 de maio, uma roda de conversa com o diretor do videoclipe da Tribo da Periferia “O cravo e a flor”, Levi Riera, o diretor de fotografia, Marconi Andrade, e a produtora da Plural Filmes, Eunice Marques, sobre o processo de criação do filme. O evento “Câmera e ação: mobilizando conhecimento contra o feminicídio” faz parte da programação da campanha “Violência contra a mulher não é normal – abra os olhos, sua atitude pode mudar o final”, lançada na segunda-feira, 27 de maio, pela instituição.
O clipe foi produzido a partir de parceria com o grupo de rap Tribo da Periferia. A iniciativa do MPDFT tem como parceiro o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com patrocínio da CAIXA e do Governo Federal. A atriz Juliana Paes é madrinha da campanha e Defensora para a Prevenção e Eliminação da Violência contra as Mulheres da ONU Mulheres Brasil. A ação com a Tribo da Periferia foi firmada por meio de edital de chamamento público para a seleção de projetos com o tema “prevenção e combate ao feminicídio".
A presidente da Comissão de Combate ao Feminicídio do MPDFT e umas das idealizadoras da campanha, Fabiana Costa, afirmou que a criação da campanha foi um ato de coragem, ao juntar pessoas de “mundos tão diferentes” para a execução do tema. “O rap tem a tradição da denúncia e o Ministério Público, o poder da caneta, de definir o que é certo ou errado. É uma união que traz uma força muito grande”, declarou.
“A mensagem que o clipe passa é muito impactante", elogiou o procurador-geral de Justiça, Georges Seigneur. Seigneur lembrou que todos os réus que cometeram feminicídio desde 2022 no DF estão presos e defendeu que “o crime é abominável e inaceitável e que a sociedade não pode mais admitir crimes dessa natureza”.
Processo de Criação
O diretor do clipe, Levi Rieira, destacou que “a música foi composta em cima de casos reais e o videoclipe é uma denúncia, não apenas uma peça audiovisual”. O diretor afirmou que foi “extremamente impactante e emocionante” participar do processo criativo do filme, especialmente a construção do roteiro conjuntamente com promotores de Justiça. “Só tenho gratidão por esse projeto e espero que as pessoas coloquem no dia a dia delas que o feminicídio precisa acabar”, concluiu.
Para a produtora Eunice Marques, foi especialmente marcante ver os atores tirando a venda e fazendo a barreira para o agressor, durante a gravação do videoclipe. “Nós temos um time muito plural, mas todos acreditaram no projeto. O objetivo só foi possível graças a várias mãos”, declarou. Já o diretor de fotografia, Marconi Andrade, contou que foi criado numa família na qual o pai agredia a mãe: “para mim, foi muito importante participar do processo criativo do filme. Me emocionei em diversos momentos porque eu já vivenciei situações de violência doméstica”.
Prevenção
A promotora de justiça e coordenadora do Núcleo de Gênero do MPDFT, Adalgiza Medeiros,e a juíza do Núcleo Judiciário da Mulher Fabriziane Zapata participaram da mesa-redonda "Prevenção ao feminicídio: estratégias de atuação no sistema de justiça". A mediação foi feita pela presidente da Comissão de Prevenção e Combate ao Feminicídio do MPDFT, promotora de justiça Fabiana Costa.
Adalgiza questionou a naturalização da violência doméstica e falou sobre as origens históricas e culturais da desigualdade de gênero. Além disso, frisou que a legislação brasileira legalizou, por muito tempo, a inferioriação da mulher legitimando práticas de violência, como a adoção da legítima defesa da honra. A representante do MP ainda apresentou números sobre o cenário dos feminicídios no DF. Segundo ela, as vítimas de feminicídio são 78% mulheres negras, conforme dados da Secretaria de Segurança Pública do DF.
A representante do MP também afirmou que o feminicídio, como muitas pessoas acreditam, não é um crime passional, mas de ódio, no qual os homens costumam matar porque não aceitam a autonomia das mulheres. Concluiu dizendo que o principal critério de prevenção do feminicídio é a educação e que o grupo de rap Tribo da Periferia e os produtores do clipe acertaram ao usar uma linguagem que “o pessoal do Direito não conseguiria ter e, com isso, ter a possibilidade de atingir um número bem maior de pessoas”. A juíza Fabriziane alertou que, desde 2015, os números mostram que 70% das vítimas de feminicídio nunca registraram ocorrências policiais. “Os sinais estão ali, muitas vezes de forma evidente, mas as pessoas não querem ver. Até em razão do peso social que a mulher carrega e acha que precisa manter o casamento a qualquer custo”, explicou.
O evento contou com a presença da vice-governadora do DF, Celina Leão; da diretora de controle interno da CAIXA, Luciane Lomba; e da secretária da Mulher do DF, Gisele Ferreira; além de outras autoridades do Ministério Público, Judiciário e do executivo distrital.
A campanha
A iniciativa do MPDFT tem como parceiro o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com patrocínio da CAIXA e do Governo Federal. A atriz Juliana Paes é madrinha da campanha e Defensora para a Prevenção e Eliminação da Violência contra as Mulheres da ONU Mulheres Brasil. A parceria com a Tribo da Periferia foi firmada por meio de edital de chamamento público para a seleção de projetos com o tema “prevenção e combate ao feminicídio".
A Tribo
Há 26 anos na estrada, a Tribo da Periferia é um dos grandes nomes do rap e do hip-hop nacionais, com mais de 8,9 milhões de inscritos no canal oficial do YouTube e mais de 3,4 bilhões de visualizações na plataforma, algo inédito para artistas do rap e do hip-hop no Brasil. Na plataforma de áudio Spotify, são mais de 3,2 milhões de ouvintes mensais, 2,2 milhões de seguidores no Instagram e 5 milhões no Facebook. A história da Tribo da Periferia começou no Distrito Federal, em 1998, quando Duckjay compôs sua primeira letra musical.